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Trânsito em Sintra: os desafios que temos pela frente

o Trânsito em Sintra na Páscoa de 2018
o Trânsito em Sintra na Páscoa de 2018

Trânsito em Sintra: os desafios que temos pela frente*

Opinião de André Beja, Deputado Municipal do Bloco

O Bloco de Esquerda está de acordo com uma mudança profunda na circulação automóvel em Sintra. Desde a nossa primeira candidatura autárquica, em 2001, que o defendemos e apresentamos propostas nesse sentido. 

A limitação de circulação automóvel em determinadas zonas urbanas é uma solução testada com sucesso e largamente aceite, nomeadamente em aglomerados com elevado afluxo de visitantes. Não discordando do princípio e da necessidade, as nossas preocupações centram-se no modo como as alterações foram introduzidas e no seu desenvolvimento futuro.

As alterações ao trânsito na Vila de Sintra estiveram para entrar em vigor a 1 de julho de 2015. Perante as críticas e dúvidas de população e autarcas, a Câmara decidiu não avançar. Devia tê-lo feito no outono seguinte, com tempo para garantir soluções e sem a pressão dos grandes fluxos turísticos, mas a decisão foi congelada. De lá para cá, nas Assembleias Municipal e de Freguesia, o Bloco insistiu em perguntar pela versão final do Plano, recebendo respostas vagas.

Contra todas as expectativas, no início de Março foram anunciadas alterações para daí a 15 dias. As medidas que deviam ter sido tomadas antes da limitação da circulação – criação de estacionamento periférico, sinalização anunciando a restrição de trânsito e soluções para transporte de visitantes para o centro – estavam (e estão) quase todas por implementar.

É inegável que, nesta Páscoa, o centro histórico beneficiou de uma acalmia, tornando-se mais amigável a quem caminha e menos ruidoso. Mas a turbulência, o ruído e o estacionamento desregrado aumentaram em São Pedro, nos bairros da Estefânia e da Portela e nas estradas da Ribeira, de Monserrate ou da Pena. Sintra não pode ser reduzida ao centro histórico, é preciso proteger as pessoas que vivem e trabalham no anel mais próximo do casco antigo.

Passado primeiro teste, há que preparar o verão: São urgentes medidas para aumentar segurança rodoviária e pedonal; para regular estacionamento de viaturas de turismo na volta do Duche; para aumentar o estacionamento periférico e melhorar a sinalização de modo a evitar que visitantes procurem chegar perto da vila para estacionar; para garantir mais e melhor transporte de ligação; para limitar o acesso de viaturas particulares à estrada da Pena e à Serra; para garantir acesso de bicicletas à Serra a partir da Vila; para permitir que moradores, transportes públicos e táxis não tenham de ir de Seteais a Colares para regressar a Sintra.

Uma intervenção desta envergadura implica uma mudança cultural na relação que uma grande maioria tem com o automóvel, bem como desconstruir o mito de que os locais só têm valor se for possível lá chegar de carro e estacionar à porta, pelo que exige clareza de ideias, transparência e diálogo. Para tal, é urgente que a Câmara divulgue toda a documentação referente ao plano que está a implementar e um calendário detalhado com a previsão da aplicação destas medidas no tempo.

É também urgente um plano de Mobilidade que olhe para o concelho de Sintra de uma forma mais abrangente e integrada. Era por aí que se deveria ter começado.

 

* Texto Publicado no Jornal de Sintra de 13 de Abril de 2018