
Faleceu Jorge Silva, também conhecido por Juca, incansável lutador pelos direitos humanos e do movimento antiracista. Integrava a lista de candidatos e candidatas do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Sintra
Fundador do Bloco de Esquerda em Sintra, pertenceu á direção local e distrital do partido. Foi eleito na Assembleia de Freguesia de Rio de Mouro entre 2005 e 2021, período em que, em regime de substituição, também exerceu funções de deputado na Assembleia Municipal de Sintra.
O Bloco de Esquerda de Sintra curva-se perante a memória de um dos seus mais destacados ativistas, prestando-lhe homenagem e endereçando votos de condolência à sua família, amigos e amigas.
Nascido em Luanda em 1957, Jorge Silva cedo se fez ativista estudantil, integrando a pró-associação de estudantes do Ensino Secundário entre 1974 e 1976 e fez parte do primeiro grupo de teatro criado após a independência do país, o Tchinganje.
A atividade política no seio do MPLA aproximou-o das correntes que já depois da independência, defendiam um partido com mais democracia interna e trabalho político de base e popular, grupos dissidentes da linha maioritária do partido que foram violentamente reprimidos em maio de 1977, como a Organização Comunista de Angola, de que fez parte.
Nesse ano veio para Portugal, onde residia no município de Sintra desde o início da década de 1980, tendo trabalhado como litógrafo em Rio de Mouro durante quase três décadas, e, posteriormente, como Mediador Cultural no atendimento de migrantes no SEF.
Com um percurso de ativismo social ligado à defesa dos direitos dos imigrantes, Jorge Silva foi fundador da associação Olho Vivo e, mais tarde, da associação Solidariedade Imigrante, da qual hoje era vice-presidente.
Militante da UDP, foi candidato do partido em 1997 à Câmara de Sintra. Em 1999 integrou o núcleo fundador do Bloco de Esquerda no concelho, tendo pertencido á direção local e distrital do partido. Foi eleito na Assembleia de Freguesia de Rio de Mouro entre 2005 e 2021, período em que, em regime de substituição, também exerceu funções de deputado na Assembleia Municipal de Sintra. A participação, o ordenamento do território, os direitos humanos, em particular dos e das migrantes eram os seus temas de eleição. Integrou também as listas do Bloco em candidaturas às eleições legislativas e para o Parlamento Europeu.
Manteve sempre uma estreita ligação com Angola e com a diáspora angolana em Lisboa, denunciando ativamente o atropelo aos direitos humanos e à liberdade de expressão perpetuados pelo regime de José Eduardo dos Santos. Em 2016, numa intervenção na Convenção do Bloco, exigiu liberdade para os 17 jovens ativistas presos em Luanda, sendo acompanhado no final pelas centenas de delegados na paavra de ordem “Liberdade Já!”, como destacou o portal angolano Folha 8.
Continuou essa denúncia durante a presidência de João Lourenço e ainda no mês passado condenou a violência policial que matou 30 pessoas durante os tumultos que se seguiram à greve dos taxistas. “O desrespeito pela vida humana tem sido uma constante na actuação das autoridades angolanas, cumprindo as "ordens superiores". Como sempre, tentam justificar o injustificável, sem se aperceberem que descredibilizam as forças policiais que, apesar preparação que têm, não são capazes de manter a ordem, sem ser a lei da bala”, escreveu Juca nas redes sociais.
Desde 2010 e ao longo de mais de uma década, Jorge Silva foi representante em Portugal do Bloco Democrático de Angola, colaborando ativamente no desenvolvimento político e organizativo deste partido.