Intervenção de Tânia Russo na apresentação da Candidatura do Bloco de Esquerda à Assembleia Municipal de Sintra
Muito obrigada pela vossa presença aqui hoje, e por enfrentarem este calor abrasador. É muito bom poder contar com o vosso apoio e fazer esta caminhada com todos vós.
Quero agradecer ao Bloco de Esquerda a confiança que depositou em mim para encabeçar a lista à Assembleia Municipal de Sintra. E quero também deixar um profundo reconhecimento a todas e todos os autarcas do Bloco pelo trabalho feito nos últimos anos no município e nas freguesias deste nosso concelho!
O meu nome é Tânia Russo, tenho 40 anos e sou médica. Não tenho experiência autárquica, mas os anos de associativismo e como dirigente sindical habituaram-me a estar na luta.
Vivo e trabalho no concelho de Sintra, o segundo concelho mais populoso do país, um concelho de grande diversidade no seu território e nas suas gentes. E à diversidade é necessário responder com políticas que sejam para toda a gente que aqui vive e que não deixem ninguém para trás.
Quando existem mais de 96 mil sintrenses, um quarto da população do concelho, sem médico de família, há alguém que fica para trás.
Quando temos dificuldade em chegar ao emprego ou à escola, porque os transportes públicos estão sobrelotados ou são suprimidos ou só passam de longe a longe, há alguém que fica para trás.
Quando as nossas ruas, as nossas vilas e as nossas cidades nos são roubadas por um trânsito desenfreado, que não deixa espaço para as pessoas e polui o ar que respiramos, há alguém que fica para trás.
Quando vemos esta ser uma das regiões mais fustigadas pela crise social e de saúde pública, e percebemos que isso tem raízes na pobreza, na precariedade laboral e das habitações, na desigualdade que afeta as comunidades migrantes, sabemos que há alguém que fica para trás. O respeito pelo trabalho digno começa na autarquia, onde não é admissível haver trabalhadores precários.
É por isso que aqui estamos. Queremos para Sintra políticas inclusivas, políticas solidárias e justas.
Queremos uma Sintra saudável, com espaços urbanos feitos para as pessoas, com zonas verdes e espaços de lazer, onde seja agradável estar.
Queremos que os e as sintrenses tenham um médico e enfermeiro de família a quem recorrer quando precisam, e não tenham de perder horas numa fila de espera para irem a um médico de recurso. Porque as pessoas não são de recurso e a saúde é um direito básico e necessário para que cada um e cada uma de nós possa contribuir para o país.
Queremos um hospital que realmente dê resposta às necessidades da população sintrense e não um projeto adiado e esquecido pelo poder central.
Queremos, precisamos, de mais e melhores transportes públicos, com mais carreiras de autocarros, mais horários e mais ligações, que cheguem a todo o concelho. Porque isso faz diferença na vida das pessoas e na economia de Sintra e do país.
E não podemos esquecer a resposta à emergência climática. Melhor ambiente é também melhor saúde. Sintra é detentora de um património ambiental e florestal único, que tem a obrigação de proteger. E há muito que a autarquia pode fazer. Defendemos um plano municipal para a emergência climática, que reduza as emissões de dióxido de carbono até à neutralidade. Defendemos uma Sintra sustentável, que lidere uma transição energética justa, que promova a geração e utilização de energias renováveis, desde logo nos edifícios e nos transportes públicos. E queremos dar primazia ao comércio local, às lojas do bairro onde já nos conhecem e onde vamos todos os dias e, em conjunto, fazermos da venda a granel uma prática habitual.
Sintra é feita pela sua gente. E esta é gente muita diversa. Aqui, vivem e trabalham pessoas de muitas nacionalidades e culturas, e essa diversidade enriquece-nos. Mas estas são também as pessoas mais esquecidas e que mais sofrem com a crise. Estas pessoas ajudam a construir este município e precisam de respostas que as integrem na comunidade. Precisam de respostas sociais que lhes garantam o direito ao emprego digno, à saúde e à habitação.
Não queremos um município ferido por desigualdades e injustiça social. Em Sintra devem caber todas as nacionalidades, todas as culturas, todas as profissões, todas as idades, todas as orientações sexuais e todos os géneros.
Já senti na pele, e infelizmente ainda sinto, a discriminação por ser mulher. Olho para as mulheres à minha volta e percebo que é mais difícil chegar a cargos de chefia ou simplesmente receber um salário igual e que é sobre nós que recai o trabalho doméstico e de cuidados. No hospital onde trabalho, são funcionárias de limpeza, e não funcionários, que me contam como a sua vida é precária e com baixo salário. A minha candidatura à Assembleia Municipal de Sintra é também uma candidatura no feminino, pela valorização das mulheres e por direitos iguais para as mulheres de Sintra.
Apresentamo-nos aqui hoje com uma equipa de mulheres e homens que vivem em Sintra, que conhecem as dificuldades por que toda a gente desta terra passa no dia-a-dia. É com estas mulheres e homens que queremos fazer mais pelo concelho.
Mas é também convosco, com todos os munícipes, que queremos trabalhar. A democracia não se esgota no dia das eleições. É nos 4 anos seguintes que se trabalha. Queremos ouvir as pessoas, queremos fomentar a participação de cada cidadão e cada cidadã nas decisões sobre a terra onde moram.
Vamos seguir juntas! Temos vontade, temos gente e temos trabalho pela frente. Queremos mais esquerda, queremos mais Bloco e queremos mais força para Sintra!