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Carujo: “Uma candidatura de gente comum que coloca o bem comum acima dos interesses dos mais poderosos”

A 8 de Setembro o JN publicou a versão parcial de uma entrevista que haviam feito a Carlos Carujo. Publicamos aqui o texto completo dessa entrevista, sem cortes.

Que balanço faz da gestão do atual executivo PS nestes quatro anos?

Este mandato ficou marcado por uma gestão eleitoralista. Quando se viveu a maior crise social do Portugal contemporâneo, o executivo camarário poupou no investimento que podia minorar o sofrimento social e guardou o dinheiro nos bancos. Agora, em vésperas de eleições gasta-se sem se ter planeado devidamente.

Ao longo deste mandato questões centrais como os transportes, a reabilitação urbana e as políticas de arrendamento social não foram devidamente tratadas. Continuou-se também a menorizar o cuidado com o espaço público e abundam situações de falta de limpeza nas zonas urbanas o que afasta cada vez mais pessoas de uma relação de afecto com o lugar em que vivem.

Foi também um mandato marcado pela ausência de mecanismos sólidos de democracia participativa e pela decisão de não completar a revisão do Plano Director Municipal, o principal instrumento de planeamento urbano, optando-se por uma gestão casuística.

Que medidas propõe para o futuro?

São prioridades: a criação de emprego ambientalmente sustentável e de qualidade, a melhoria da rede de transportes públicos e pouco poluentes, o combate à betonização e o cuidado com o espaço público e com os espaços escolares e uma política que conjugue reabilitação urbana com o arrendamento a custos controlados.

No segundo concelho mais populoso do país faltam ainda infraestruturas culturais e desportivas básicas o que nega direitos básicos de cidadania. É preciso apostar no acesso à cultura para toda a gente, sem elitismos.

Num concelho marcado por desigualdades sociais fortes, não podemos aceitar o desinvestimento nas zonas periféricas; temos de apostar na justiça social e em não permitir que as populações mais vulneráveis fiquem abandonadas. Para isso são precisas intervenções de proximidade: é preciso investir na rede de creches por exemplo; são necessários programas de mediação cultural e de envolvimento com as associações existentes; é urgente um plano de acompanhamento de idosos; para as pessoas com deficiência são necessárias medidas de inclusão que diversifiquem e intensifiquem as respostas no sentido de uma vida plena.

É preciso mudar o paradigma económico do concelho fazendo-o ganhar espaços para a produção alimentar e apoiando o cooperativismo.

É preciso também inverter a lógica do poder presidencialista e mobilizar a participação popular.

Que dificuldades/facilidades teve o BE na aprovação e implementação de medidas propostas no presente mandato?

É preciso compreender que o Bloco de Esquerda está em condições diferentes de outras forças políticas que disputam estas eleições. PS e direita têm máquinas políticas enormes que geriram o concelho durante décadas e, neste mandato, PS, PSD-CDS e CDU partilharam responsabilidades executivas na Câmara enquanto que Marco Almeida foi vereador. O Bloco de Esquerda esteve apenas representado na Assembleia Municipal o que, devido às competências do órgão, limita a sua capacidade de apresentar propostas. Apesar desta limitação, o BE não deixou de dizer “presente” em todas as questões essenciais à vida do concelho ao longo dos 16 anos que leva de presença na Assembleia Municipal.

Aliás, nestas eleições, decide-se se tudo fica na mesma na Câmara de Sintra, com os mesmos partidos que estão na Câmara há mais de quarenta anos, ou se são eleitos vereadores do Bloco de Esquerda que ajudem a fazer a diferença.

Admite coligação com outros partidos (PS ou PSD/CDS) em caso de vitória destes sem maioria?

O Bloco de Esquerda não se coligará com a direita por decisão do seu órgão máximo, a sua Convenção. O Bloco de Esquerda de Sintra também não se pode coligar com o neoliberalismo selvagem e com a lei dos empreiteiros e do betão. Assim, o ponto zero para iniciar qualquer discussão sobre a participação do BE em qualquer modalidade de executivo de esquerda será o PS desistir da proposta de introduzir “créditos de edificabilidade”, um princípio que significa dar carta verde para se poder betonizar ainda mais os centros urbanos arrasando com as limitações aos níveis de construção que protegem a qualidade de vida.

Desafiamos portanto Basílio Horta a desistir imediatamente desse processo de mega-betonização que pretende realizar no concelho e as outras forças políticas a esclarecer se aceitam participar num governo municipal subordinado a este desígnio central.

Para além disso, claro, é preciso clareza sobre questões essenciais como a política de transportes, a reabilitação urbana e as políticas sociais antes de qualquer discussão conjunta sobre uma qualquer possibilidade de entendimento político.

Esclarecemos contudo, desde já, que o Bloco de Esquerda não aceitará pelouros simbólicos para fazer o frete a outros, não aceitará pelouros com o objectivo de dar emprego a alguém ou apenas para benefício do partido, nem aceitará pelouros se não for para concretizar os compromissos programáticos que apresenta.

Quais os pontos fortes/fracos desta candidatura?

Esta é uma candidatura de gente comum que coloca o bem comum acima dos interesses dos mais poderosos. Foi sendo construída de forma participativa ao longo dos últimos meses. Não estamos aqui para vender super-candidatos que mudem a realidade do município apenas com o poder da sua mente. Estamos aqui para apresentar uma alternativa às gestões do centrão político construída e assumida colectivamente. Estamos aqui humildemente para oferecer todo nosso empenho para mudar a paisagem política sintrense, para mobilizar a força da participação popular. Sabemos que é essa força o factor político decisivo que pode mudar a realidade do concelho.